Gosto de estações de comboio, na hora do longo curso.
As malas acompanham sempre os seus donos; levam-nas ao bar, num pequeno-almoço rápido; ao quiosque, para a revista que distrairá a paisagem repetida; ao sanitário, onde o esforço pode ser algum, para que ambos se acomodem.
Quem aguarda partir, é um passageiro em trânsito. Esta não é a sua rotina diária. Gosto das pessoas em stand-by da vida, dá-me paz. Não falo das que esperam o comboio para o emprego ou para ir à consulta, não. Essas estão metidas na sua vida, encaixadas, pagadas, tristes até.
Em viagem, não gosto de conversas com o exterior.
Vou sair agora, já estou na carruagem... Sim, obrigado!...
Elas acompanham o percurso. Esperançosas, inocentes, sofrem percalços.
Logo se vê, se não me vierem buscar, ligo-te a ti...
As intraconversas têm outro interesse. Começam com banalidades para se irem aprofundando. Exorcizam-se memórias...
Na véspera de ir para termas com meus pais, os meus amigos iam todos lá a casa, despedirem-se. Brincávamos a tudo o que sabíamos, até terem de nos arrastar para dentro, à hora de jantar.
A realidade relativiza-se. As almas diluem-se na velocidade constante do mundo que corre lá fora. Na gare, ansiosa, beija-nos a vida que nos espera. É outra e já não nos reconhece.
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