A morte é uma velhinha. O cabelo está apanhado na nuca e a mala de mão enfiada no braço.
Uma vez vi-a, no portão da Pousada, à espera. Esteve ali bastante tempo. Respirava uma certa ansiedade sem, no entanto, olhar como quem procura ou antecipa a chegada de alguém. Simplesmente esperava.
Analisou o tempo que faltava e nem relógio tinha. Abriu a pequena bolsa e dela tirou um fino pente de tartaruga, arrumou com ele os fios prateados de cabelo e guardou-o calmamente. A morte tem vaidade.
Ali junto, sobre um bloco de granito, já no cimo das escadas, estava pousada uma gata, todo o tempo imóvel, sentada sobre as patas de trás. Antes do telefone tocar, lambeu, dolente, as patas.

"Maria... o papá morreu."

Quando olhei de novo, nem a velha nem a gata estavam já no lugar.

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